A morte do poeta, escritor e cronista de O Estado José Chagas foi recebida com grande tristeza entre intelectuais, políticos, companheiros da Academia Maranhense de Letras (AML), artistas e pesquisadores da sua vida e obra. Referindo-se a ele como um dos maiores poetas do Maranhão, todos ressaltaram a importância, qualidades e características únicas de sua produção literária e foram unânimes ao afirmar que seu falecimento representa uma perda irreparável.
Também poeta e escritor, o senador José Sarney, declarou que José Chagas cantava a magia da cidade. “São Luís, a cidade que tem cheiro de cravo e canela, que guarda os azulejos e casarões, das lendas, dos mistérios, que inspirou poetas geniais como João do Vale e Gullar, perdeu o seu maior poeta nos últimos 50 anos. Chagas amou São Luís e o Maranhão, e nos disse isso na sua poesia magistral e na sua prosa genial. Ele cantou a magia da cidade, eternizou seus sonetos, viveu sua boemia, no som do sax”, escreveu Sarney.
Em respeito à importância de José Chagas para a cultura maranhense, a governadora Roseana Sarney decretou luto oficial de três dias e se solidarizou com familiares e amigos do escritor e poeta, enfatizando o amor e a dedicação dele à literatura. “Hoje é um dia triste para a cultura maranhense e brasileira. José Chagas é reconhecidamente um dos maiores nomes das letras do país e ficará eternizado por meio de seus versos. Ele deixa um legado de rimas perfeitas que nos inspira a enveredar pelo mundo da poesia”, afirmou a governadora Roseana Sarney.
Além de poeta, José Chagas também foi cronista e em O Estado fez parte praticamente dos 54 anos de história do matutino. “A comunidade de língua portuguesa perde um dos seus poetas mais importantes, que cantou São Luís como uma musa universal. O poeta de Maré Memória, Apanhados do Chão, Os Telhados, entre muitos outros poemas magistrais, está eternizado, e isso nos orgulha. Mas, tanto quanto o poeta, José Chagas foi um grande mestre da crônica, por meio da qual registrou, nas páginas de O Estado, com maestria, as mais importantes cenas do seu tempo”, destacou Ribamar Corrêa, diretor de Redação.
Imortais
Assim que souberam do falecimento de José Chagas, os imortais na Academia Maranhense de Letras foram prestar sua solidariedade à família e lamentaram a morte do poeta. O presidente da AML, Benedito Buzar, estava embarcando em um voo para São Paulo quando soube da morte do amigo. 
Sem poder desmarcar a viagem, o escritor não pode dar maiores declarações, afirmando apenas estar consternado com a notícia.
Assim que soube do falecimento de José Chagas, o escritor Jomar Moraes ligou para O Estado a fim de compartilhar o material que
reuniu ao longo dos anos sobre o amigo, preocupado em preservar sua memória. Ele foi o responsável pela edição de algumas de suas obras, entre elas a 4ª edição do livro Colégio do Vento, lançada ano passado, 40 anos após sua publicação original, durante as comemorações dos 89 anos de Chagas. “Quem não conhece a obra de José Chagas está perdendo muito, pois ele tinha uma maneira única de trabalhar com as expressões e palavras”, afirmou.
E assim como muitos outros amigos, Jomar Moraes seguiu para o Hospital UDI, onde Chagas esteve internado, para prestar homenagens ao amigo e solidariedade à família. “José Chagas foi grande em todas as áreas da sua vida. Como poeta, escritor, homem e amigo. Tudo isso perdeu o Maranhão”, disse Jomar Moraes.
Ceres Costa Fernandes disse que ele será insubstituível. “Perdemos, sem a menor dúvida, um dos maiores poetas do Maranhão. A lacuna deixada por ele jamais será preenchida, pois ele era um homem extremamente humano e, por isso, muito querido por todos aqueles que conviviam com ele”, disse a escritora que em 2011 o homenageou na segunda edição do Café Literário, onde ele fez uma das suas últimas aparições públicas.
Já adoentado, ele foi convidado por Ceres Costa Fernandes a participar do encontro e surpreendeu a todos quando chegou ao Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, na Praia Grande, onde palestrou por mais de uma hora. “Eu não esperava que ele fosse, afinal, sua saúde já estava bastante frágil. Apesar disso, ele deu uma das maiores contribuições que já tivemos no Café Literário, falando sobre a importância da existência da poesia, sobre sua obra e a cidade de São Luís, que tanto amava”, lembrou a escritora.
São Luís
Essa paixão de José Chagas por São Luís foi destacada pelo membro da academia e também cineasta Joaquim Haickel, que em 2012 dirigiu o documentário José Chagas – O filho e o homem, resgatando a obra do poeta e escritor. “José Chagas não nasceu no Maranhão, mas ele nos provou que o amor não vem do nascimento, mas da devoção e ele era um homem muito devotado a São Luís, seus telhados e manguezais. Sua obra simboliza o que o Maranhão tem mais de cru”, declarou.
A forma como São Luís era contada nos poemas e crônicas de Chagas era uma das características mais marcantes da sua produção. Tanto que certa vez o poeta Ferreira Gullar fez um elogio público à poesia de Chagas, que lhe telefonou para agradecer. “Ele me ligou recentemente para me agradecer esse elogio e eu lhe respondi que não era preciso, pois apenas havia reconhecido um fato. José Chagas, mesmo não sendo maranhense, tinha uma identificação muito forte com São Luís e isso tornava sua obra maravilhosa e de muita qualidade”, destacou.
O poeta Nauro Machado também ressaltou o quanto o poeta soube transmitir São Luís por meio de sua poesia. “José Chagas era maranhense, pois morou aqui por mais de 60 anos. Eu, ele e o poeta Antonio Almeida andamos muito juntos pelas ruas de São Luís conversando sobre literatura e tudo mais que nos interessava e, por meio dessa vivência nas ruas da cidade, ele aprendeu como ninguém as verdades que São Luís tinha a oferecer, refletindo isso na sua poesia. Os Telhados, de José Chagas, é a maior poesia já escrita sobre São Luís”, comentou o poeta.
Amigo de Chagas há mais de 50 anos, ele disse ser impossível falar sobre o amigo e sua obra em poucas palavras, por isso, disse que dedicaria, na noite de ontem, a escrever um longo artigo sobre José Chagas para publicação em O Estado para que a memória do amigo não se perca como a de tantos outros grandes poetas.
Pesquisador
Além de imortal da AML, Sebastião Moreira Duarte era um pesquisador da obra de Chagas e publicou dois livros com algumas das principais crônicas de José Chagas publicadas em jornais locais, entre eles, O Estado. Segundo o escritor, Chagas foi um dos maiores cronistas do Brasil, tanto em quantidade quanto em qualidade da publicação. “Poucos escreviam tanto quanto ele em jornais, às vezes, suas crônicas eram publicadas em dois jornais diários no mesmo dia”, contou.
Na semana passada, Sebastião Moreira Duarte esteve no Hospital UDI visitando o amigo e ficou feliz por estar entre as poucas pessoas que ele ainda reconhecia. Confiante na recuperação de Chagas, o escritor ficou muito abalado ao saber da morte do amigo. “Eu estava muito esperançoso na recuperação de Chagas, apesar de tê-lo visto bastante debilitado no hospital. Quando estive lá, ele falou muito pouco e me disse que seu estado de saúde era coisa da vida”, revelou.
Quem também se dedicou a pesquisar a vida e obra de José Chagas foi o jornalista Félix Alberto Lima, que em 2006, junto com o também jornalista Manoel dos Santos, lançou a biografia Chagas em Pessoa. A proximidade entre o jornalista e o poeta teve início quando Félix Alberto produziu um caderno especial para O Estado pelos 80 anos de Chagas. “Ele era uma pessoa que gostava de conversar e trocar ideias. Como eu sempre acompanhei o movimento literário de São Luís, não foi difícil criar uma proximidade com Chagas, com quem estive pela última vez em 2013, quando ele comemorou 89 anos”, disse


Fonte: O Estado  do Maranhão

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